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A história de Ada começa em um lugar que ela nunca conheceu: na ilha de Chipre, em 1974, quando dois jovens apaixonados se encontravam escondidos debaixo de uma figueira. A árvore, que testemunhou o amor dos dois e a chegada da guerra que viria a desolar a ilha, foi levada para Londres, e dezesseis anos depois é a única ligação de Ada com a sua ancestralidade. A garota, então, embarcará em uma busca pela própria identidade, tecendo uma linha até o passado dos pais e revelando tudo o que se perdeu no tempo.
É o segundo livro que leio de Elif Shafak que possui uma narrativa sensível e ao mesmo tempo impactante. E “A Ilha das Árvores Perdidas” foi mais um livro que ela mergulhou na complexidade das relações humanas, na identidade e na busca por pertencimento. Através de uma narrativa delicada que aos poucos a história vai se entrelaçando, Elif apresenta a vida de personagens que, de alguma forma, estão conectados por um passado compartilhado e por suas experiências individuais em um mundo de constante transformação.
A história se passa em um pequeno vilarejo da ilha de Chipre, onde árvores antigas guardam segredos e histórias de gerações passadas, tanto que uma das personagens é uma árvore! – sim, uma árvore que fala, mais precisamente uma Figueira. E isso ajudou muito no enriquecimento da ambientação que faz com que a gente sinta a presença quase palpável da natureza ao redor dos protagonistas. Cada árvore na ilha é uma metáfora para as memórias e as histórias não contadas de cada pessoa que passou por lá, simbolizando a força da memória e o impacto do tempo sobre nossas vidas.
Onde começa a história de alguém quando toda vida tem mais de um fio e o que chamamos de nascimento não é o único começo, nem a morte é exatamente um fim?
Temas de perda, saudade, pertencimento e resiliência são explorados de forma sensível, revelando a luta interna dos personagens para se encontrar em meio ao caos da vida. Através da junção de elementos culturais e sobretudo os históricos, Elif Shafak aborda questões como exílio, a busca pela identidade e a conexão que sentimos com nossas raízes e com os ancestrais, criando uma reflexão profunda sobre o que significa realmente pertencer a um lugar.
Com personagens bem desenvolvidos e um enredo que transita entre o real e o fantástico (afinal, temos uma árvore que fala no livro), “A Ilha das Árvores Perdidas” é sobretudo uma jornada introspectiva, assim como foi com “10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho”, onde cada página é uma descoberta e nos traz grandes reflexões.
“Temos medo da felicidade, sabe. Desde a mais tenra idade nos ensinaram que no ar, nos ventos etésios, há uma estranha troca em ação, de modo que para cada bocado de contentamento se seguirá um bocado de sofrimento, para cada gargalhada há uma lágrima pronta para rolar, porque é assim que funciona este mundo estranho, e por isso tentamos não aparentar estar muito felizes, mesmo nos dias em que nos sentimos assim por dentro”
Elif Shafak é simplesmente uma escritora maravilhosa e ela mais uma vez entregou TUDO em uma história. “A Ilha das Árvores Perdidas” é sobre pertencimento, sobre memórias e saudades – até mesmo daquilo que nunca se teve, é um livro repleto de sabedoria e beleza, é aquele tipo de história que você termina, mas ainda fica por muito tempo pensando nela, leitura mais que recomendada. 5/5:
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