E o vento levou, de Margaret Mitchell, traz a impressionante história da bela Scarlett O’Hara e de sua transformação de jovem impetuosa e mimada em mulher prática e disposta a tudo para conseguir o que deseja. Frustrada por não conseguir se casar com Ashley Wilkes, Scarlett acaba se envolvendo com o charmoso aventureiro Rhett Butler, com quem viverá uma das histórias de amor mais célebres e conturbadas da literatura.
Desta forma, Mitchell descreve de maneira impressionante a Guerra Civil Norte-americana e retrata as grandes mudanças que pavimentaram a história dos Estados Unidos e enterraram para sempre um estilo de vida.
Finalmente meu primeiro livro de 2023 concluído com sucesso que comecei a ler no finalzinho do ano passado, demorei bastante porque “…E o Vento Levou” é um romance histórico de quase mil páginas de um dos períodos mais conturbados da Guerra Civil entre o Norte e o Sul dos EUA e eu realmente não estava com pressa pra este livro.
Há muitos anos atrás, quando ainda eu era menina, me lembro de ter assistido o filme com minha mãe, mas da história em si hoje eu já não lembrava de mais nada, é um livro que há muito tempo queria ler e foi um dos melhores clássicos que já li na vida. A protagonista desta história é Scarlett O’Hara. Sua história começa com ela ainda bem mocinha, com apenas 16 anos. Scarlett é uma garota rica, mimada, impulsiva, que adora ser o centro das atenções entre os homens e que sabe usar da beleza e das artimanhas do charme que possui para conseguir isso.
Scarlett é a filha mais velha de duas irmãs. É de família rica e proeminente no sul dos EUA. Seu pai, Gerald, é um imigrante irlandês temperamental mas de bom coração que chegou aos EUA sem um centavo no bolso e construiu Tara, uma fazenda enorme de plantação de algodão. Casou-se com uma mulher que tinha metade da sua cidade – Ellen Robillard também de uma família rica, criada em Savannah – Ellen é uma mulher religiosa, extremamente benevolente com todos e a quem Scarlett teve uma profunda devoção.
Por ser rica e ter tudo o quer, as únicas preocupações da vida de Scarlett eram os bailes, os vestidos e os homens, acontece que as coisas começam a mudar com a chegada de uma Guerra Civil e isso será a ruptura que mudará sua vida e o destino de todos para sempre. Um pouco antes da guerra começar, devo incluir outro personagem muito importante que aparece em um baile: Rhett Buttler. O peculiar Rhett Buttler é o personagem pária da sociedade, metido em todo tipo de negócios escusos e que sempre deixou claro sua aversão aos Confederados e a guerra. De fato, por isso, ele não é muito querido entre todos e obviamente no futuro irá nascer uma grande amizade/amor entre Scarlett e Rhett, mas não vou contar nada além disso porque ainda tem muita água pra rolar debaixo dessa ponte.
“Quando finalmente se levantou e reviu as ruínas enegrecidas de Twelve Oaks, sua cabeça se ergueu altiva e algo que representava juventude, beleza e um potencial de ternura havia desaparecido para sempre de sua fisionomia. O passado era passado. Os que estavam mortos estavam mortos. O luxo preguiçoso de outrora se acabara, para nunca mais voltar. Ao acomodar e cesta pesada no braço, Scarlett acomodou a mente e sua própria vida.
Não havia volta e ela iria a diante.
Durante cinquenta anos, haveria por todo o sul mulheres amarguradas e olhar para trás, para o passado morto, para homens mortos, a evocar memórias que magoavam e eram inúteis, tolerando a pobreza com orgulho amargo porque tinham essas memórias. Mas Scarlett nunca olharia para trás.”
Da história eu não vou entrar em detalhes, primeiro porque são muitas coisas que acontecem e em muitos períodos: o antes da Guerra, o pós Guerra, a Reconstrução, enfim… Tanto que o livro é dividido em cinco partes. Há uma porção de outros personagens, outras cidades, outras fazendas, mas no meio de tanta história há algo muito importante: a escravidão e sua abolição. A libertação dos negros, os direitos empregados, a revolta do sul e o surgimento da KKK. Esse livro há um tempo atrás foi muito comentado e estava rolando até um movimento de boicote alegando ser uma história “racialmente insensível”.
A história que é narrada em terceira pessoa – muitas vezes conta como são os pensamentos dos personagens, como pensavam e agiam em diversas situações e de fato, possui diversos estereótipos racistas, sobretudo de como era o povo sulista americano, mas acho que pra uma história que foi escrita em 1939 que retratou fielmente um período histórico de uma nação em meados de 1860, as coisas precisam ser contadas como realmente foram – não há como dourar a pílula, há estereótipos racistas porque é assim que as pessoas eram e agiam, e tirar isso do livro, seria como colocar o problema pra debaixo do tapete.
Scarlett na verdade agia dessa forma; ela vivia em um eterno duelo mental de certo X errado das coisas e quando optava pelo lado errado – mas que a beneficiaria de alguma forma – ela sempre enfiava a consciência na ultima gaveta da mente e dizia a si mesma “amanhã eu penso nisso”, para ela todos os fins justificaram os seus meios. De fato é uma personagem extremamente forte no sentido de lutadora e isso é inegável, ela passou pelas consequências do pior de uma guerra e que herdou do pai o amor pela terra aonde foi criada e sendo assim prometeu que jamais iria passar fome outra vez. Apesar de ir a luta, trabalhar para alimentar a si e aos seus, Scarlett não mediu esforços para conseguir o que queria, sobretudo quando suas atitudes envolviam o dinheiro, e isso a fez uma mulher fria, dura, egocêntrica, egoísta e muitas vezes um pouco burra também. Scarlett era literal, não conseguia compreender as coisas que não fossem mostradas de uma forma direta pra ela.
Rhett também é esse tipo de pessoa dura e egocêntrica, um canalha assumido, mas era inteligente. Se aproveitou da guerra pra ganhar muito dinheiro e de fato ganhou. E sempre deixou muito claro isso pra todas as pessoas, por isso também era tão odiado, além de tudo era o único que conseguia ver Scarlett como realmente era e jogava todas as verdades na sua cara (eu adorava os diálogos entre os dois). Somando a outro personagem: Melaine Hamilton Wilkes estes foram os meus dois personagens favoritos da história. Melaine era uma amiga devota a Scarlett assim como Scarlett foi devota da mãe. Mas Scarlett nunca gostou de Melaine. Esta foi uma pessoa extremamente bondosa, que conseguia unir a todos a sua volta e enxergar o melhor das pessoas. E assim ela também era com Scarlett. Ela sempre saia em defesa da amiga quando todos os outros a julgavam por algo, mas tenho pra mim que no fundo, Melaine também sabia quem Scarlett realmente era, sabia inclusive do seu amor não diretamente declarado por Ashley – marido de Melaine, mas eram duas personalidades que por serem tão distintas uma da outra, se completavam e se uniam de certa forma nos piores momentos.
A reta final do livro é ainda mais emocionante, a história como um todo não tem nenhum momento de marasmo, SEMPRE há algo acontecendo, sendo assim é um livro que vai te prender do começo ao fim. Há tantas outras coisas a contar, tantos outros personagens, tantas reviravoltas, mas essa resenha ficaria longa demais, é uma história que todos em algum momento deveriam ler.
“…E o Vento Levou” pra mim é um dos melhores clássicos da literatura e hoje eu entendo o porquê. Não é apenas um romance histórico. São diversas histórias construídas e interligadas ao longo dos anos, um livro denso realmente, rico em todos os detalhes: desde lugares, histórias e personagens. Por isso que fiz questão de ler sem pressa alguma, mesmo porque é um livro longo e algo assim só faz sentido ler quando você não tem pressa alguma de terminar. 5/5 xícaras:
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