Dias atrás eu comecei a assistir, por dica da Sheila, uma série do Ewan McGregor chamada “Long Way up”. Na verdade essa é como se fosse a terceira temporada (embora não precise ver na ordem) de uma produção que ele e o melhor amigo fizeram viajando por vários lugares do mundo de moto. O ponto de partida de “Long Way Up” foi no extremo Sul da Patagônia (por isso que começamos a assistir por essa), mais precisamente em Ushuaia sendo o ponto final em Los Angeles nos EUA.
Boa parte da Patagônia eles fizeram pela Argentina, na Rota 40. Essa rota, infelizmente, estava fechada quando precisamos subir para o Norte, então tivemos que praticamente dar toda uma volta do lado Atlântico pra entrar novamente no Chile. Essas fotos, é de uma das cidades que passamos, se chama Comodoro Rivadavia na costa do oceano Atlântico e se você nunca tinha ouvido o nome dessa cidade, eu também até então nem fazia ideia da existência:
Foi uma pernada enorme, mas tínhamos que seguir por esse caminho de qualquer jeito e uma das cidades que chegamos foi Pucón. Quando chegamos eu me apaixonei pela cidade logo de cara. Pucón é a Virgin River chilena. Eu quero morar lá!
Lá também foi o nosso ultimo destino de trekkings: o vulcão Villarrica que é o vulcão mais ativo da América do Sul.
(eu acabei de me tocar que e ainda não contei de El Chaltén – a cidade das trilhas, o Fitz Roy, e os trekkings lindos que fizemos, então me perdoem por eu inverter a ordem, mas vai ficar pro próximo post)
Desde que a gente traçou essa viagem eu estava super ansiosa por Villarrica porque além do trekking ser muito legal, quando você chega ao topo você tem que colocar uma máscara especial por conta da emissão dos gases do vulcão e não pode ficar ali por mais de 5 minutos. Não é nada de perigoso ou radical demais (juro!), mas é em um certo grau assustador e por isso que eu queria fazer. Acontece que quando chegamos, soubemos que o vulcão estava em alerta amarelo: ou seja, ele tinha aumentado um pouco em atividade, então, só poderíamos ir até 500 metros abaixo do cume, qualquer coisa além disso era proibido.
Pegamos dias bem nublados em Pucón, mas sem chuva. Fechamos o trekking com uma agência indicada pela staff do hostel que ficamos e teríamos uma janela aberta em um único dia nas próximas semanas – e isso seria no outro dia. Fomos eu, Ricardo e mais dois guias e gente, posso dizer que essa foi a maior aventura de toda minha vida e que muita coisa aconteceu: inclusive eu escorregar em uma escarpa de neve e que se não fosse Ricardo me segurando por um braço e eu ter batido a picareta de neve no gelo com o outro braço, eu teria descido bem uns 200 metros no vazio, não morreria e nem me machucaria, mas eu teria que ser içada por cordas e confesso que esse momento pra mim foi bem assustador. Depois que toda essa merda de susto passou e eu ri da situação (lamentar não é uma opção), eu me senti muito montanheira também, embora que fique bem claro aqui eu não ser nada disso.
Apesar de janela de tempo que se abriu, o clima lá começou assim mas depois ficou bem diferente – um pouco de chuva, vento e completamente encoberto – não se via nada por nenhum lado e isso é uma sensação tipo, muito estranha, porque parece que você está caminhando no vazio, a gente fala em janela aberta, mas o clima de montanha é sempre muito instável, ainda mais quando pessoas loucas resolvem fazer esse tipo de coisa no inverno não é mesmo? *autocritica*
Sem contar o frio. Minha nossa, QUE FRIO. Enquanto você está caminhando é ok, porque o corpo permanece aquecido e tudo mais. O problema é quando para. E nossas paradas não podiam ser mais que 5 minutos porque se esfriava muito rápido e foi nesse dia que eu senti literalmente o que é fazer um frio de doer os ossos. Pra vocês terem uma ideia, em um determinado momento eu tirei o gorro porque minha cabeça estava suada e meu cabelo em questão de segundos congelou – sem brincadeira, eu tenho o vídeo pra provar isso:
Cada coisa que o ser humano se aventura a fazer não é mesmo, minha gente? Nesse vídeo dá pra ter uma noção da visibilidade zero que a gente estava tendo, um branco total:
Mas pra mim foi um dia inesquecível! É aquele tipo de coisa que você coloca no potinho de “coisas que já fiz na vida” pra nunca mais esquecer, é aquele momento que coloca você em perspectiva com o mundo e te faz mais humilde e ao mesmo tempo te faz VIVO. (uns 15 dias depois o vulcão mudou o nível de alerta para laranja, fecharam tudo em volta e evacuaram 25 famílias de zonas de risco)
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