Ela é doce, sensível e extremamente sofrida: tem dezesseis anos, mas a maturidade de uma mulher marcada pelas provações e privações da pobreza, o pulso forte e a têmpera de quem cria os irmãos menores como filhos há anos, e só uma pessoa conhece a mágoa e a abnegação que se escondem por trás de seus tristes olhos azuis.
Ele é brilhante, generoso e altamente responsável: tem dezessete anos, mas a fibra e o senso de dever de um pai de família, lutando contra tudo e contra todos para mantê-la unida, e só uma pessoa conhece a grandeza e a força de caráter que se escondem por trás daqueles intensos olhos verdes.
Eles são irmão e irmã.
Com extrema sutileza psicológica e sensibilidade poética, cenas de inesquecível beleza visual e diálogos de porte dramatúrgico, Suzuma tece uma tapeçaria visceralmente humana, fazendo pouco a pouco aflorar dos fios simples do quotidiano um assombroso mito eterno em toda a sua riqueza, mistério e profundidade.
É a primeira vez que leio um livro com um tema tão tabu e pesado: incesto. É isso mesmo. Esse livro está há um tempão no meu Kindle e eu já tinha lido algumas resenhas sobre ele. Obviamente não se trata de uma história leve e muito menos com um final feliz. Acredito que você tenha que estar com a mente bem vazia e livre de julgamentos antes de começar a ler porque você precisa compreender, até mesmo sob um ponto de vista psicológico, as situações que levaram as sucessões dos acontecimentos.
A autora trouxe esse tema que abordou todo um contexto pesado provida de uma sutileza e sensibilidade tão grande que eu não achava que isso fosse possível, em nenhum momento ela nega a imoralidade e muito menos romantiza a prática – o que faço questão de destacar porque isso é um ponto muito importante. Aqui temos dois irmãos mais velhos tendo que cuidar dos três irmãos mais novos e com todas as responsabilidades que isso acarreta. Eles que fazem o papel de pai e mãe nessa família tão problemática, tiveram que amadurecer muito cedo. Crianças que foram abandonadas pelo pai que se mudou para o outro lado do mundo e uma mãe completamente ausente que ainda por cima é alcoólatra, dissimulada e irresponsável, meu Deus, eu odiei tanto essa mulher no livro. Por esses pontos, você vai unindo e teia de problemas e percebe que há todo um peso psicológico por trás de cada acontecimento.
Os protagonistas são os irmãos Lochan e Maya – os mais velhos dos 5 irmãos – 18 e 16 anos respectivamente e a história vai intercalando os capítulos com a narração dos dois em primeira pessoa. Eu gosto desse tipo de narrativa porque acho que flui rapidamente e você consegue absorver os sentimentos, desejos e as angustias através dos pontos de vista de cada um.
O livro nos mostra claramente de como é a solidão na sua maneira mais crua e visceral, a solidão despida de qualquer futilidade ou vaidade. Eu acho que esse foi o sentimento “gatilho” que despertou a relação de incesto dos dois. Não é apenas uma solidão sob o aspecto de se sentir sozinho. É uma solidão dolorosa, criadora de traumas – com dores físicas e emocionais, mas sobretudo, é aquela solidão que mostra que em todo e qualquer ser humano existe a necessidade física e emocional do afeto.
Sem dúvida eu digo que foi um livro muito angustiante de ler, aviso desde já, e apesar do incesto ser algo absurdamente errado e repudiável (que na grande maioria das vezes estão diretamente ligadas a violência sexual), esse livro não nos mostra aonde está o certo ou errado, ele te tira da zona de conforto, mas deixa claro que nessa história não cabe a você julgar. Eu diria que é uma leitura necessária para nos colocar mais no lugar do próximo e analisar antes de tomar algum julgamento. 5/5 xícaras:
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