De todos esses anos convivendo com o Transtorno de Ansiedade, em algum momento da minha vida eu precisava tirar alguns ensinamentos porque a duras penas, uma hora você tem que aprender a conviver com isso. Hoje eu resolvi escrever sobre minha resiliência. Todo mundo é ansioso. Acontece que existe uma diferença entre estar ansioso e ser ansioso. No meu caso, é transtorno mesmo, mais conhecido como TAG = Transtorno de Ansiedade Generalizada. Eu sempre fui ansiosa desde que me entendo por gente, desde criança. É da minha natureza, da minha personalidade, mas em 2012 eu precisei de ajuda pra lidar com isso porque chegou num nível que eu não conseguia mais ter o controle sobre mim. Há muito tempo eu não tenho mais crises de ansiedade como as que eu já tive, o que não quer dizer que muitas vezes não fico ansiosa e fico bastante, mas consegui dia após dia aprender a lidar com ela e não acredito que nunca mais vou ter alguma crise novamente, mas hoje em dia eu sei como fazer se caso aparecer.
Mas esse post não é pra falar sobre a parte ruim da coisa. Há uma parte boa sim nisso, oh sim, por incrível que pareça tem sim. É sobre ter esperanças e contar sobre os aprendizados, porque se tem uma das milhões de coisas que a ansiedade me ensinou e ainda me ensina, é poder enxergar as coisas boas no meio de um caos. É juntar os caquinhos e começar tudo de novo depois que o furacão passa, mesmo porque, seguir em frente é o que todos nós – ansiosos ou não, temos que fazer. Ansiedade é merda. Isso é um fato. É muito ruim você acordar com o coração na boca, ter palpitações, aquela angustia horrível que te trava a garganta, mãos suadas, tonturas, dores musculares e pior ainda: muitas vezes sem motivo algum. A ansiedade simplesmente chega sem pedir licença e com seu peso enorme, senta bem no meio do seu peito e ainda olha pra sua cara e diz: “duvido você me tirar daqui”. É assim que a ansiedade te trata e mais ainda: ela domina a sua mente também. Você não vive no passado e muito menos no presente. Presente? Que presente? Você acaba vivendo num futuro louco que a sua mente cria com as piores situações e todas as possibilidades de dar errado, nunca as certas – por mais que a situação seja 100% favorável a dar certo. Ansioso sofre por antecipação e quando tudo passa, você ri de si mesmo, porque afinal de contas, não era nada daquilo que imaginou.
Geralmente também tem a culpa que muitas vezes anda de mãos dadas com o medo: um medo irracional na maioria das vezes – como bem uma terapeuta uma vez me disse e isso eu nunca mais esqueci. A culpa por muitas vezes é por não concluir o que precisava fazer ou simplesmente deixar a ansiedade te dominar e você não ser capaz de fazer tal coisa. Ter transtorno de ansiedade é uma batalha diária, uma batalha que algumas vezes você irá perder a guerra e mesmo assim tá tudo bem sabe? Somos humanos feitos de carne, osso e coração e aceitar que não se pode ganhar todas, deixa o coração mais leve, porque dia após dia, mesmo você tendo perdido algumas batalhas, você vai percebendo que alguma mudança aqui ou ali foi boa apesar de tudo, por mínima que seja e isso te deixa mais forte mesmo que isso não seja percebido de momento. Já é um passo mais longe daquela coisa que teima sentar no seu peito. Remédios ajudam, mas não são a solução. Isso é fato. Eles te ajudam, mas as mudanças só dependem de você. Dentre as centenas de coisas que adotei pra minha vida desde 2012 pra cá, existem 3 coisas que pra mim são primordiais e que me ajudam bastante:
– Exercícios.
– Livros.
– Me afastar de tudo aquilo/quem me não me faz bem.
Exercícios físicos são uma das primeiras coisas que médicos e terapeutas recomendam pra um ansioso. É o literalmente por pra fora tudo aquilo que está te afligindo e o exercício – não importa qual, é o melhor caminho pra isso. A corrida me ajudou muito nesse sentido, mas como de uns meses pra cá eu fiquei meio relapsa em correr, a academia me ajuda bastante também. Eu não consigo mais ficar sem me exercitar. Não importa qual modalidade esportiva você escolha, o que importa é movimentar o corpo, você ganha na saúde e na mente.
Ler também é uma coisa que sempre me ajudou desde sempre. Há anos tenho o hábito da leitura, muito antes de 2012, mas ao ler um livro eu consigo me abster totalmente do mundo e ficar completamente imersa na história. Isso é uma das coisas mais maravilhosas que a literatura proporciona na vida de alguém, um mundo à parte aonde você pode entrar e sentir bem, independente do contexto da história. Um dos motivos por eu tanto amar ler e sempre querer mais e mais livros é exatamente esse: a possibilidade de entrar em outro mundo e ficar ali por quanto tempo eu quiser, a ansiedade não entra aí. E cada livro é um mundo diferente.
Se afastar de tudo aquilo ou quem não nos faz bem, deveria ser regra na vida de todo mundo e não só dos ansiosos pois nada, absolutamente nada que perturbe a sua paz merece a sua atenção ou o seu tempo. E digo isso de um modo geral: notícias ruins, pessoas que independente da maneira, mas que de alguma forma não nos faz bem, situações pelas quais não somos obrigados a passar. Isso não é egoísmo, não é querer se achar melhor do ninguém, não é se fechar na bolha pro mundo alheio, mas sim uma auto preservação.
Obviamente existem milhões de outras coisas que ajudam cada um a ter uma vida menos ansiosa, eu mesma tenho mais uma porção delas, mas isso vai da percepção e vida de cada indivíduo porque afinal de contas, não existe uma receita mágica para esses males emocionais, mas é graças a não ter uma mágica pra solução disso que eu acredito que acontece o maravilhoso milagre do autoconhecimento. A ansiedade te ensina isso, da maneira mais dolorida – é verdade, mas te ensina muito e você uma hora aprende. Não estamos sozinhos, isso é outro fato. A gente acha que tudo está em cima somente das nossas costas, mas se olharmos em volta, veremos que tem muito mais gente passando por algo tão semelhante a nós e que o barco sempre estará mais cheio do que a gente pensa. E aí faz o que? Dá as mãos e se abraça porque ninguém nesse mundo merece viver sofrendo com isso. A gente vive um mundo muito louco cheio de cobranças, muita falta de tempo, mas que ainda falta muito respeito e carinho ao próximo, e aonde num lugar é carregado de muitos cliques, muitos likes, ainda falta muito amor de verdade. A gente tem que passar por isso, não dá pra escapar objetivamente como num livro, não dá fazer as malas e fugir desse mundo, mas dá pra ser fazer o caminho mais suave.
Com tudo isso a gente aprende também que toda essa angustia e medo não vão durar pra sempre, mesmo muito embora as vezes pareça ser eterno, mas talvez essa seja a melhor lição de todas afinal de contas, a gente sabe que nada é para sempre. Isso tudo também passa, então te acalma esse coração, porque eu te garanto que passa sim! 🙂
Rosan diz
Texto sensacional Ju ,como tudo na vida ,temos que ver o lado bom tbm das coisas ruins que passamos. adorei,
Mel diz
Que texto maravilhoso, Ju… E me ajudou a me ligar numa coisa: Não treino desde novembro praticamente…..e já tive umas 2 crises dessa de ansiedade. Numa delas vc e os meninos me ajudaram MUITO. Vc lembra? Obrigada. Muito obrigada.
Rodrigo César diz
❤️
Larie diz
Eu passei minha graduação inteira tendo crises de ansiedade por diversos motivos que estavam fora do meu alcance lidar na época, mas acho que foi algo “pontual”, mesmo durando anos. Nunca fui para a terapia, mas há tempos (2 anos) não tenho aquela crise de deixar a gente sem ar e achando que ia morrer porque comecei a adotar novas filosofias na minha vida. Fazer meditação guiada de 3 minutos para me trazer para o presente, fazer academia, andar de bicicleta, voltei a ler bastante também, aprendi a racionalizar os meus sentimentos depois que eu me acalmo e a conversar mais com Deus antes de dormir (não sou religiosa, não frequento igrejas nem nada, mas acredito nesse Ser que criou um plano para nós). Abrir mão do controle é algo que tenho aprendido diariamente. Tem dias que são melhores que os outros e são mais fáceis também.
Aos pouquinhos a gente vai domando esse sentimento devastador. ❤ Amei seu texto!
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