
Sabe quando você abre o guarda-roupa, tem uma quantidade até além do suficiente de roupas mas não sabe o que vestir? Sabe quando você tem bastante roupas, mas acaba sempre vestindo a mesma coisa, muitas vezes até tendo aquela peça que nunca usou e que continua permanecendo intocada? Ou quando começa a pipocar nas notícias os nomes de marcas famosas ligados ao trabalho escravo e você começa a pensar que tem algo de muito errado porque você também contribuiu com isso quando comprou aquela blusinha daquela marca?
Todos os anos, ao menos umas ou duas vezes ao ano eu faço uma doação de roupas e sapatos que não estou usando há mais de 6 meses, acontece que eu acabei percebendo que isso é tipo um círculo vicioso pra mim: você se desfaz daquelas roupas que não usa mais (até aí super ok), mas acaba comprando mais roupas novas e assim vai… Eu vou continuar doando porque não suporto ver coisas se acumulando e que não uso mais quando tem tanta gente que precisa e veja bem, não há nada de errado nisso e tecnicamente é assim que as coisas funcionam: tirar o que não se usa mais e dar espaço para o novo. Mas aí eu comecei a me pegar principalmente naquelas notícias que vira e mexe estão divulgando sobre marcas famosas que utilizam trabalho escravo nas suas roupas e olha, não são poucas não: nos últimos 8 anos um numero alarmante de 37 marcas estavam (e ainda estão) envolvidas com trabalho escravo, isso porque eu ainda nem comecei a citar as marcas que usam peles de animais nas suas coleções e isso é um processo também muito cruel, pra dizer o mínimo.
Nós vivemos em um mundo que se antes, há alguns anos atrás, ninguém se preocupava com a procedência das coisas, hoje é melhor a gente começar a se preocupar sim e MUITO. Parar, pensar melhor, analisar e procurar saber a real da onde vem tudo aquilo que consumimos, como é todo o processo até chegar o produto final nas nossas mãos, além do que, é bom ser criterioso e sempre se fazer aquela pergunta: “eu realmente preciso disso?”. De certa forma já fazemos um pouco disso de buscar procedências, ainda que de uma maneira bem lenta, com a alimentação, mas porque não fazer o mesmo com as roupas que vestimos e os calçados que usamos?
E não é difícil de descobrir, já existe até aplicativo pra celular que mostra os nomes das marcas que estão envolvidas com o trabalho escravo, as denúncias sempre aparecem nas notícias então não há como ser omisso a tudo isso. Uma coisa que já estou colocando em prática é: fazer uma seleção de roupas no meu guarda roupa e ficar só mais com aquelas que são “peças coringa” e principalmente que dá pra fazer vários looks com a mesma roupa. Eu olhei meu guarda roupa com mais carinho e comecei a montar looks diferentes com as mesmas peças de roupas e complementar sempre com um acessório pra dar um up. Geralmente faço isso com colares porque eu amo um colar, mas tô partido pra uns brincos mais ousados também.
Acontece que daqui um tempo, é natural que eu comece a enjoar de algumas dessas roupas e tudo bem nisso porque a moda faz parte desse processo também, mas foi aí que eu decidi partir para os BRECHÓS e um mundo novo abriu pra mim. Se você entrar no Instagram, por exemplo, irá encontrar milhões de marcas de brechó espalhados pelo país inteiro e tem roupas pra todos os gostos e estilos: desde um vintage, até a ultima moda que está se usando no momento.
Tem brechós apenas especializados em marcas caras (o que não é meu estilo), mas é uma ideia boa também porque por mais que você saiba que aquela marca que você gosta esteja envolvida em algo sujo como o trabalho escravo, você não está contribuindo mais pra isso comprando diretamente de um brechó e ainda paga bem mais barato, além do que, você está contribuindo por uma moda cíclica e não um fast fashion. Você irá adquirir roupas que estão em ótimo estado (muitas vezes nunca usadas), afinal de contas, é uma roupa como todas as outras e assim dando tempo de uso pro tanto que aquela peça realmente deve durar, é diferente de se adquirir uma peça nova diretamente de uma fast fashion que passou por todo o processo (e talvez, no mínimo, muito possivelmente por um trabalho escravo) pra ser colocada na arara. Claro que, vale lembrar: existem grandes marcas que trabalham direitinho, não estou dizendo pra gente execrar todas as fast fashions e nunca mais comprar nada, mas sim MUDAR os hábitos (a minha meta é ficar nos brechós e pequenos produtores, mas há o grande porém do bom senso de buscar a informação de procedência). Afinal, só depende de nós – que somos consumidores, tenhamos uma mudança de compra, para que essas grandes marcas também tomem uma atitude e garantam condições justas para seus trabalhadores e causem o mínimo do mínimo de impacto no planeta.
Muitas pessoas aqui ainda associam os brechós com roupas velhas, sujas, bregas e até um certo “medo” de usar algo que já foi de alguém, mas não é nada disso gente, o brechó é um segmento que lá fora, principalmente nos EUA e Europa já existe há muitos anos e que certamente se você entrasse em um compraria alguma coisa, então porque não fazer o mesmo aqui já que também está em crescimento no Brasil? Eu descobri brechós ótimos, com roupas em perfeito estado e o melhor ainda: muitas peças são únicas.
Mas por que comprar em brechós?
– Bom, pra começar que você está contribuindo por uma moda mais sustentável, principalmente por todos os motivos que eu disse lá em cima, você comprando de brechós, além de estar eliminando qualquer mão de obra escrava ou crueldade animal nova, está fazendo da moda algo mais consciente e reciclável para você e para o planeta. Você economiza em água, energia e produtos químicos (lembram quando eu disse lá em cima sobre TODO o processo até chegar em nossas mãos, certo?). E sustentabilidade é o que esse mundo precisa em todos os segmentos, inclusive na moda.
– Economia de dinheiro. Eu acho que nem preciso explicar muito nesse ponto, porque nos brechós as roupas são infinitamente mais baratas e isso todo mundo sabe. Mas nessa hora também vale ser criterioso porque muitas vezes o barato é convidativo a se comprar mais e mais roupas. Então sempre use o critério e bom senso: Eu preciso mesmo dessa roupa? Vou usar bastante? Além de economizar porque pagou mais barato, você só vai comprar o que realmente for usar, isso também é uma moda mais consciente.
– Estimular o seu lado fashion – essa é a parte que eu mais estou gostando – porque assim você aprende a conhecer melhor o seu estilo e aproveitar o que você já tem. A melhor forma de fazer isso é misturar peças antigas com peças atuais (aprendi isso justamente pesquisando sobre brechós): Um vestidindo vintage com uma jaqueta jeans e tênis fica super lindo (eu amo/sou vestido + tênis). É ir olhando as roupas com carinho pra ir treinando o olho e aprender a enxergar o potencial que cada peça tem. Nem tudo que estará no brechó você vai gostar ou é bonito, mas a magia disso é que garimpar por peças do seu gosto, se torna algo bem divertido.
– Você vai encontrar todo estilo de roupa. Até mesmo de grandes grifes que muitas vezes a pessoa comprou por impulso, mas acabou passando pra frente porque nunca usou. O bom de encontrar diferentes estilos em um único lugar (o que não é o caso de shoppings porque já vem toda a coleção mastigada e pronta pra gente) é que você pode encontrar uma peça que de repente você não ache que combine com seu estilo, mas com alguma mistura fica ótimo e isso é bem legal porque, além de estimular a criatividade, você entra no mesmo ponto em que já disse de misturar peças e ter algo mais único e usável no seu guarda-roupa.
– Muitas peças, quicá a maioria delas, são exclusivas. Principalmente o vestidos e blusas vintages que estão em perfeito estado e muito em alta atualmente, há brechós só especializados nisso e há toda uma história nessas roupas, eu acho incrível isso. E fique tranquila: a curadoria desses brechós é BEM profissional e muitas peças, se precisarem, passam por pequenas reformas ou customizações (que você também pode fazer – o famigerado DIY) e TODAS as peças são perfeitamente higienizadas, então esqueça pra sempre aquele tabu besta de que brechó tem roupa velha, suja e brega.
Eu decidi pro meu 2019 adotar uma moda mais consciente e sustentável e só adquirir peças de brechó pra mesclar com as roupas que eu já tenho, os meus looks desse post nem todos ainda estão 100% brechó, mas a maioria das peças são sim, alguns deles também é de PEQUENO PRODUTOR, o tão conhecido “COMPRE DE QUEM FAZ” e também conhecido pela prática do SLOW FASHION que é um termo exatamente ao contrário do fast fashion, ou seja, você compra de alguém que você consegue saber toda a procedência tanto da origem da matéria prima, como também da produção, são produtores que prezam pela diversidade, que se preocuparam com o impacto ambiental e respeita seu trabalhador porque mantém a sua produção entre pequena e média escalas. Em suma é uma moda muito mais ética. E isso te garante uma peça de roupa mais exclusiva, por preço justo além do plus de você poder saber toda a procedência até chegar nas suas mãos o que eu acho ótimo e também é mais uma alternativa pra fugir dessas fast fashions que exploram vidas e o planeta, mas vou falar sobre o compre de quem faz em um próximo post porque esse aqui já ficou enorme.
No que depender de mim, de agora em diante só será dessa forma, já tinha há um certo tempo boicotado muitas marcas por toda essa barbárie do trabalho escravo, mas além disso sempre achei um abuso uma blusinha custar mais de 40 reais ou um vestido de estampa mais bonitinha ter a bagatela de 300 reais na etiqueta, DA MESMA FORMA que também é pra ficar com dois pés atrás quando aquela roupa está barata demais (certeza que há um trabalho escravo aí), agora passei a faca em tudo quanto é marca desse tipo (tirando a fase de adolescente besta, o fato é que eu nunca liguei pra marcas e há muitos anos o meu se importar com uma etiqueta é zero). Isso é uma contribuição até muito ínfima se comparado ao mundo todo, mas fico com a consciência mais tranquila e sei que de alguma forma estou fazendo a minha parte e não compactuando com a exploração de pessoas, animais e o meio ambiente.
Pra terminar, no Netflix há um documentário – The True Cost que é muito impactante e mostra TODO o processo de como uma roupa chega até nós, joga na nossa cara como é o trabalho escravo, as mortes e doenças e todo o impacto ambiental que isso custa pras pessoas e pro mundo, e aí fala sobre a importância dos brechós e daquele pequeno produtor que tem respeito pelo ser humano e pelo planeta, sobretudo é um caminho pra nos mostrar a importância da consciência em adquirir uma moda mais sustentável, vale muito a pena assistir:
Vou deixar também uma LISTA DE BRECHÓS ONLINE, sendo que alguns tem a loja física também pra vocês darem um bizú, vou sempre manter essa lista atualizada conforme eu for conhecendo e se alguém tiver um brechó legal pra indicar, posta nos comentários que eu atualizo, tá bem?
Rejeitados – Gato Preto – Froufrou – Garimpos com Amor – Brechó Polaroid – Minha Vó Tinha – Brechó SP – Que Chuchu Moda Vintage – Clinica Moda Brechó – Authentic Brechó – Brechó Rebajas – Brechó do Grilo – Vivintage – Garimpos da Maria – Dry Martini Brechó (o meu brechó online)
* Ultima vez atualizado em 09/01/2019
Mulheres maravilhosas que usam brechó ou compram de quem faz, tem looks lindos pra se inspirar, sempre atualizarei aqui também:
Lígia Romão – Bruna Rosa – Isadora Attab – Lorrayna Teixeira
Amei!