Hannah e Christopher são o retrato de um casal feliz, com carreiras bem-sucedidas e um casamento em total harmonia. Só faltava um único item nesse cenário perfeito: uma criança. Então, quando Janie, uma garotinha abandonada, é levada para o hospital em que ambos trabalham, ela parece ser a resposta a tudo aquilo que sempre sonharam. Christopher cria uma conexão instantânea com ela e convence Hannah de que eles deveriam adotá-la.
Mas Janie não é uma criança comum. Pouco se sabe sobre o seu passado e, a julgar pelo seu comportamento perturbador, talvez seu psicológico afetado mostre que ela é muito mais do que seus novos pais são capazes de lidar, especialmente Hannah. Afinal, é na mãe que ela direciona toda a sua raiva e em quem parece descontar todos os traumas que carrega. Para Christopher, a quem a menina é completamente devota, ela guarda a sua face mais doce e angelical.
Incapaz de criar laços com Janie, Hannah está sufocada com toda a pressão, enquanto Christopher se recusa a enxergar a verdadeira natureza da criança. E conforme a crescente espiral de maldades da menina ameaça separar o casal, a verdade por trás do passado dela os leva ao limite e escancara a Hannah e Christopher que, às vezes, conseguir o que se quer pode ter consequências perturbadoras.
Um thriller psicológico bastante interessante, mas é um livro perturbador. A escritora – Lucinda Berry é psicóloga, portanto muito do que se vê no livro se trata bastante da vida real, há embasamentos científicos didaticamente bem explicados e um sistema de assistência social americano falho que a autora usou como base na história pra desencadear os acontecimentos, portanto é uma história bem plausível ao mundo real mesmo sendo totalmente ficcional.
Eu devorei o livro em poucos dias e confesso que esse tipo narrativa mexe muito comigo porque a gente acaba tendo diversos sentimentos conflitantes e algumas coisas são realmente chocantes. Hannah e Christopher são os protagonistas da história – ela enfermeira e ele médico no mesmo hospital, um casal feliz, mas que não conseguiram ter filhos, então quando Janie é levada ao hospital, mal eles sabiam que suas vidas iriam mudar para sempre, porém não de uma maneira positiva. A garotinha de apenas 6 anos tem um passado marcado por abuso e violência, ela simplesmente é encontrada vagando por uma estacionamento coberta de sangue e hematomas. Quando Christopher e Hannah decidem adotá-la mesmo tendo poucas informações sobre o seu passado – apenas sabendo que foi terrível – não sabiam na verdade aonde estavam se metendo.
No que diz respeito aos personagens a Hannah era a mais “pés no chão” no sentido de enxergar mais com clareza as coisas, em contra partida foi a que mais se lascou nessa história toda. Christopher me irritou praticamente o livro inteiro porque foi o tipo de pai que pra mim relativizou muito o comportamento de Janie e isso acabou desencadeando uma série de acontecimentos que deixou algumas tragédias irreparáveis pelo caminho.
Desde o primeiro momento que ele colocou os olhos em Janie, foi como se uma chave tivesse virado dentro desse homem. Ele foi tomado por uma devoção cega e o amor dele pela menina era tão grande que o impedia completamente de enxergar a verdadeira natureza da criança. Foi essa devoção cega que me irritava porque muitas vezes invalidava o que Hannah falava/sentia/sofria e mostrava à ele, sendo que depois foi obviamente a Hannah que sofreu praticamente todas as consequências. Ele achava que com amor, paciência e muita terapia, Janie se consertaria, mas acho que essas histórias existem muitas vezes para nos mostrar que nem todos podem ser consertados, inclusive, a autora fala bastante sobre o conceito de crianças sociopatas e o quanto elas podem ser manipuladoras e más simplesmente porque não sentem empatia por absolutamente nada.
O final ficou em aberto e achei bem válido, pra quem leu e gostou “Precisamos Falar sobre Kevin” ou “O Impulso” certamente vai gostar também dessa história (aliás, os pais nesses livros também, por coincidência ou não, nunca viam nada de errado nos filhos, ao contrário das mães). 5/5:
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