Elena Ferrante, pseudônimo da consagrada escritora italiana de A amiga genial, lançará no Brasil, pela Biblioteca Azul, o segundo volume da tetralogia napolitana. Recentemente indicada ao Man Booker Prize 2016 por Story of the Lost Child, último livro da série, a autora, firme na decisão de não revelar sua real identidade, se tornou um fenômeno literário mundial após a publicação, em 2011, do primeiro dos quatro romances que formam a saga ambientada na Nápoles do pós-guerra.
Best-sellers nos Estados Unidos e na Europa, as obras de Ferrante contam a história da forte ligação das amigas Elena Greco, narradora da história, e de Rafaella Cerullo, mais conhecida como Lila, percorrendo todas as fases da vida das duas, nascidas e crescidas no subúrbio de Nápoles, nos anos de 1950. Após o repentino desaparecimento de Lila, aos 66 anos, Lenu repassa a vida da amiga, explorando os ecos desta em sua própria existência.
Envolvente e com a costumeira cadência impecável, a narrativa de História do novo sobrenome dá espaço para reflexões profundas a respeito da subjetividade, da sexualidade, do amor e, sobretudo, do papel imposto à jovem mulher em meados do século XX ― contraponto construído entre as duas personagens centrais, às voltas com as restritas possibilidades de escolha, mas ao mesmo tempo surpreendidas pelas descobertas acerca de suas próprias capacidades e seus limites.
Lila, que teve os estudos interrompidos por questões familiares – muito cedo teve que trabalhar com o pai e o irmão, se casou cedo. Lenu, por sua vez, consegue se desvencilhar do destino certo das moças da época e não se casa, mas passa a se preparar para a faculdade, levando consigo as marcas definitivas da complexa relação de amizade com Lila – admiração misturada a identificação.
Os personagens vão ganhando espaço na história, não apenas nos acontecimentos cotidianos relatados por Lenu, como também nos comentários subjetivos da narradora. Lenu, sem poupar de nada o leitor, escancara cenas de casamento, de adultério, de supostas e reais traições dentro de uma amizade, mas também os pequenos momentos em que parece acertar as contas com ela mesma.
“História do Novo Sobrenome” é o segundo livro da tetralogia da série napolitana e eu devo dizer que estou obcecada por essas histórias. Nesse segundo livro conhecemos muito mais sobre Lenu e Lila em meio a violência doméstica, estudos, abusos e traições. Esse segundo livro eu demorei um pouco mais para engatar na história, mas depois fluiu tão bem que eu terminei em poucos dias. Se a gente achava que a amizade entre essas duas amigas em algum momento teria uma melhora, um amadurecimento, muito pelo contrario, só piorou e um grande abismo formou-se.
Lila é a personificação da frase de que quem tem ela como amiga não precisa de inimigos. Até porque mesmo Lenu sendo a parte da relação que mais sofre com tudo isso, também sente que precisa desse lado impulsivo e “corajoso” de Lila, sobretudo para seguir com seus estudos, muitas vezes eu tinha vontade de entrar no livro e pegar a Lenu pelos braços pra dar uma sacudida. Dizendo assim até parece meio confuso, um paradoxo, porque ao mesmo tempo que é uma amizade tóxica, é também dependente uma da outra, mas Elena Ferrante tem uma narrativa tão rica, tão peculiar dela que nada fica com fios soltos no caminho.
Os episódios de quando elas viajam para a praia pra mim foram os mais marcantes porque foi a partir daqueles dias que determinou o rumo de muitas coisas em suas vidas dali em diante, principalmente ao que se refere a vida da Lila e pra mim, depois as coisas nunca mais foram as mesmas. Há também outros dois personagens nesse período que ganharam igualmente o meu ódio: Nino e Donato. Mas não vou me aprofundar nos motivos para não dar spoiler.
Esse segundo livro eu gostei mais ainda que o primeiro. De maneira visceral, com paixão e emoção, Elena Ferrante narra fatos cotidianos que poderia ser da vida de qualquer pessoa, desses que passariam despercebidos para a maioria de nós. 5/5:
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