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Livro: Um Teto Todo Seu

abril 25, 2019

“Em Um teto todo seu, este clássico ensaio que veio a se tornar um texto feminista fundamental, Virginia Woolf discute a necessidade de as mulheres escritoras conquistarem seu espaço, tanto literal quanto metafórico, dentro de um universo dominado por homens. A escritora pontua em que medida a posição que a mulher ocupa na sociedade acarreta dificuldades para a expressão livre de seu pensamento, para que essa expressão seja transformada em uma escrita sem sujeição e, finalmente, para que essa escrita seja recebida com consideração, em vez da indiferença comumente reservada à escrita feminina na época.

Imaginando, por exemplo, qual seria a trajetória da irmã de Shakespeare – caso o famoso escritor tivesse uma e ela fosse tão talentosa quanto o irmão –, Woolf descortina ao leitor um cenário em que as mulheres dispunham de menos recursos financeiros que os homens e reduzido prestígio intelectual. Será que à irmã de Shakespeare seria dada a mesma possibilidade de trabalhar com seu potencial criativo? Como o papel social destinado aos dois sexos interfere no desenvolvimento (ou na falta) de uma habilidade nata?

Virginia mostra como, na época, a elaboração da competência de uma pessoa dependia de seu sexo, uma vez que a sociedade reservava aos homens e às mulheres papéis, atribuições e concessões bastante distintas. A maioria das mulheres não dispunha da liberdade e da privacidade necessárias para ter um lugar próprio para refletir e laborar na escrita. Daí a afirmação da escritora de que“uma mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu se quiser escrever ficção”. Uma mulher precisa ter condições financeiras e espaço para pôr-se a contemplar suas ideias e colocá-las no papel.”

Meu primeiro livro de Virginia Woolf. E “Um Teto Todo Seu” já fez me apaixonar por essa mulher/escritora tão a frente do seu tempo. Esse livro se trata de um ensaio que ela escreveu em 1929 e foi transformado em diversas palestras em que inicialmente foi intitulado como “A Mulher a Ficcção”. Virginia com um senso de humor afiadíssimo nos mostra como mulheres eram impedidas de se expressar devido sua pobreza e como eram subjugadas pelos homens e família simplesmente por serem mulheres.

Para ilustrar isso ela cria uma personagem ficcional – Judith, irmã de Shakespeare – para nos exemplificar de uma forma clara que uma pessoa com os mesmos talentos de Shakespeare e que teria o mesmo dom (quicá até mais) para desenvolver obras incríveis, mas que seria negada e teriam todas as portas fechadas pelo simples fato de ser mulher.

“[..] é impensável que qualquer mulher nos dias de Shakespeare tivesse tido o dom de Shakespeare. Porque um gênio como o de Shakespeare não surgia entre pessoas trabalhadoras, sem educação formal, servis. Não nascia na Inglaterra entre os saxões e bretões. Não surge hoje entre as classes trabalhadoras. Como, então, poderia surgir entre mulheres cujo trabalho começava, de acordo com o professor Trevelyan, pouco antes de deixarem o berço, e ao qual eram impelidas pelos pais e obrigadas pelo poder da lei e dos bons costumes? Ainda assim, gênios desse tipo hão de ter existido entre as classes trabalhadoras.”

A mulher não tinha o direito de escrever, de criar, de ter acesso aos livros, de ter uma imaginação… Uma mulher que ousasse isso seria tratada como louca, subjugada por todos, inclusive pela família, afinal o papel da mulher nesses tempos era apenas cuidar da casa e dos filhos. Esta passagem escrita por Virginia Woolf está repleta de simbolismo: “troque ‘dinheiro’ por ‘validação social’ e ‘um teto todo seu’ por ‘liberdade intelectual’ e provavelmente você terá encontrado os motivos pelos quais não há tantos romances, poemas, peças ou estudos escritos por mulheres ao longo da história.” De maneira clara Virgínia nos mostra nesse ensaio que para se escrever toda mulher precisa ter um teto todo seu e uma renda. Essa importância de se ter um espaço próprio – de preferência que se possa trancar com chave para que ninguém lhe interrompa é o começo do caminho para que a mente esteja tranquila para toda mulher poder se expressar livremente.

“A liberdade intelectual depende de coisas materiais. A poesia depende da liberdade intelectual. E as mulheres sempre foram pobres, não só por duzentos anos, mas desde o começo dos tempos. As mulheres gozam de menos liberdade intelectual do que os filhos dos escravos atenienses. As mulheres, portanto, não tiveram a mais remota chance de escrever poesia. […] No entanto, graças à labuta das mulheres obscuras do passado, de quem eu gostaria de saber mais, graças, curiosamente, a duas guerras – a da Crimeia, que permitiu que Florence Nightingale saísse de casa, e a Europeia, que abriu as portas para a mulher comum cerca de sessenta anos mais tarde –, esses males estão prestes a ser corrigidos. Não fosse assim, vocês não estariam aqui esta noite, e a sua chance de ganhar quinhentas libras por ano, por mais precária que ainda seja, seria extremamente minúscula.”

Virginia não enaltece a mulher em detrimento do homem, diferente de muitos textos/artigos feministas que lemos, principalmente dos nossos tempos atuais. Para ela ambos podem escrever bons livros (e cita ótimos autores também), desde que esqueçam seu gênero e escrevam livres disso.

“A literatura está aberta a todos. Recuso-me a permitir que você, mesmo que seja um bedel, me negue acesso ao gramado. Tranque as bibliotecas, se quiser; mas não há portões, nem fechaduras, nem cadeados com quais você conseguirá trancar a liberdade do meu pensamento.”

“Seria mil vezes uma pena se as mulheres escrevessem como os homens, ou vivessem como eles, ou se parecessem com eles, pois se dois sexos é bastante inadequado, considerando a vastidão e variedade do mundo, como faríamos com apenas um?”

Por diversas vezes Virginia nos apresenta diversos pensamentos simples mas bem pertinentes sobre as obras de Jane Austen, Charlotte Brontë, Emily Brontë, George Elliot. Percebi, inclusive, que Virginia gostava especialmente da coragem de Charlotte Brontë quando escreveu Jane Eyre. Mulheres que criaram romances incríveis, autoras de clássicos lidos até hoje, mas que poderiam ser ainda melhores e teriam escrito muito mais se tivessem mais liberdade de espaço e liberdade intelectual pra tal. Fiquei por muito tempo pensando sobre isso. Eu destaquei diversos trechos desse livro que os coloquei entre a resenha desse post. É muito complexo de falar de uma autora/mulher incrível que escreveu uma obra tão densa como essa – no sentido de ter muitas coisas pra se absorver mesmo e nos impacta tanto que foi exatamente dessa forma que esse livro foi pra mim, certamente irei ler todas as suas outras obras.

“Jane Austen escondia seus manuscritos ou cobria-os com um pedaço de mata-borrão. Bom, até então, todo o treinamento literário que uma mulher tinha no começo do século XIX consistia em exercitar a observação de personagens, a análise das emoções. Sua sensibilidade foi lapidada por séculos pelas influências da sala de estar comum. Os sentimentos das pessoas a afetavam; suas relações pessoais estavam sempre diante de seus olhos. Por essa razão, quando a mulher de classe média decidiu escrever, naturalmente escrevia romances, ainda que, como se mostra evidente, duas das quatro mulheres famosas aqui mencionadas não fossem romancistas por natureza. Emily Brontë deveria ter escrito peças de teatro poéticas; a fertilidade da mente capacitada de George Elliot deveria ter se espalhado na época em que o impulso criativo era gasto com história ou biografia. Elas, porém, escreveram romances, é possível até, digo eu retirando Orgulho e preconceito da prateleira, ir além e afirmar que elas escreveram bons romances. Sem fazer alarde ou ofender o sexo oposto, é possível dizer que Orgulho e preconceito é um bom livro. De qualquer forma, ninguém se envergonharia de ser flagrado escrevendo Orgulho e preconceito. No entanto, Jane Austen agradecia quando uma dobradiça rangia, o que lhe permitia esconder seu manuscrito antes que qualquer pessoa entrasse. Para Jane Austen, havia algo desonroso no ato de escrever Orgulho e preconceito. E indaguei-me, Orgulho e preconceito teria sido um romance melhor se Jane Austen não achasse necessário esconder seu manuscrito das visitas?”

“Quando lemos sobre o afogamento de uma bruxa, sobre uma mulher possuída por demônios, sobre uma feiticeira que vendia ervas ou mesmo sobre um homem muito notável e sua mãe, então acho que estamos diante de uma romancista perdida, de uma poeta subjugada, uma Jane Austen muda e inglória, uma Emily Brontë que esmagou o cérebro em um pântano ou que vivia vagando pelas ruas, enlouquecida pela tortura que seu dom lhe impunha. Na verdade, arrisco-me a dizer que Anônimo, que escreveu tantos poemas sem cantá-los, com certeza era uma mulher.”

O final desse ensaio é tocante. Afinal Virginia conclui nos encorajando a escrever todo tipo de livro/textos/pensamentos, não hesitando diante de nenhum tema – por mais trivial possa parecer… E espera que tenhamos dinheiro suficiente para viajar, conhecer o mundo, ter experiências e claro! Um teto todo nosso. 5/5 xícaras com louvor:

todos os livros, Virginia Woolf

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